
O mestre Guimarães Rosa escreveu que "As pessoas não morrem, ficam encantadas... a gente morre é para provar que viveu". E o Engenheiro Kleber Faria Pinto (Turma de 1958 da Escola de Minas) ficou encantado, neste dia 8 de dezembro. E provou que viveu, deixando um importante legado à Fundação Gorceix e à Escola de Minas.
O presidente executivo da Fundação Gorceix, Prof. Cristovam Paes de Oliveira, que tinha em Kleber, antes de tudo, um amigo, lembra que “a Escola de Minas e a Fundação Gorceix perdem um colaborador dos mais importantes, que sempre defendeu e contribuiu com as nossas Instituições, em todos os momentos em que foi acionado”.
“Registro nosso reconhecimento por sua contribuição e dedicação como integrante de nosso Conselho por muitos anos, e por estar sempre presente, fosse nas comemorações ou nos momentos críticos de nossa trajetória institucional”, complementa.
Natural de Propriá – SE, o jovem Kleber veio estudar em Ouro Preto e logo adaptou-se à cidade com seu espírito seresteiro, boêmio e hábil contador de histórias, tendo inclusive fundado a República Formigueiro. Das Minas Gerais foi para o Planalto Central logo após graduar-se em Engenharia de Minas, Metalurgia e Civil.
Na futura capital do país, começando a ser construída, trabalhou na Empresa Brasileira de Engenharia – EBE, em projetos de instalação de rede elétrica subterrânea. Em 1961, exerceu o cargo de chefe de gabinete do ministro das Minas e Energia, João Agripino Filho. Foi professor da Comissão de Administração do Sistema Educacional de Brasília – Caseb e professor de Matemática da Faculdade de Arquitetura da Universidade de Brasília – UnB. Trabalhou com Israel Pinheiro, Darcy Ribeiro, Oscar Niemeyer, Lucio Costa, Félix Vieira de Almeida, Joffre Mozart Parada e Moacyr Gomes e Souza. Foi cônsul honorário do Senegal e presidente da Associação dos Frequentadores do Aeroporto Internacional de Brasília.
A Fundação Gorceix se solidariza com a família de Kleber Faria Pinto, registrando seu reconhecimento pela imensa contribuição e dedicação à causa da Gorceix.
A ele, as homenagens de toda equipe da Fundação Gorceix.

No dia 31 de outubro último, o presidente executivo da Fundação Gorceix, Professor Cristovam Paes de Oliveira, esteve na AcelorMittal João Monlevade, onde, além da área histórica da empresa, visitou o Laboratórios de Metalurgia e Física e conheceu as inovações tecnológicas desenvolvidas no local.
A visita foi guiada pelo Engenheiro Metalurgista, Joaquim Gonçalves Costa Neto, representante da empresa e ex-aluno da turma de 1988-1 da Escola de Minas/UFOP. (Na foto à esquerda)

Leia abaixo o discurso na íntegra:
Antes de prosseguir, um pouco de história.
Dezembro de 1960 - provas finais (o nome era outro, mas não importa).
Era mais ou menos assim: dois discos paralelos são separados por um líquido de viscosidade conhecida. Imprimindo a um dos discos um movimento, calcular qual o movimento induzido ao segundo.
Este problema era um dos integrantes da coletânea de “finas” de Física I (para os não iniciados, finas eram ...) que eu negłigenciei e, para minha tristeza, caiu na prova. Com isto adquiri a prerrogativa de me submeter a uma segunda prova, em fevereiro de 1961 (a chamada segunda época).
Para este segundo embate eu julgava ter uma facilidade - partindo do princípio que o raio não cai duas vezes no mesmo lugar, os nossos heroicos discos poderiam ser descartados da preparaçăo para aquela “repescagem”. Com isto haveria mais tempo năo só para a preparação para o exame, mas também liberaria tempo para outros deveres igualmente importantes.
A título de ilustração, dentre estas útimas poderíamos destacar a multimilenar atividade da busca da sobrevivência. lnvestidos da função de “caçadores coletores”, partíamos , em incursões noturnas, à caça das essenciais proteínas, nos profícuos habitats de aves domésticas, nos quintais da cidade.
Voltando às atividades acadêmicas, tive o desprazer de constatar que um raìo pode cair duas vezes no mesmo lugar, assim como um mesmo problema de física pode cair em duas provas consecutivas.
Como consequência disto, fui abandonado peła minha turma, que seguiu em frente e agora comemora seu jubiteu de diamante. Parabéns para vocês! Como compensação, (ou consolo?), serei diamante do sesquicentenário, enquanto vocês são apenas 149.
Antes de prosseguir, gostaria de dar um aviso e pedir uma vênia.
O primeiro é semelhante ao que Mark Twain apôs no início do livro “Aventuras de Huckleberry Finn”, que diz: “quem tentar encontrar um moțivo nesta narrativa, será processado; quem tentar encontrar a moral da história, será banido; quem tentar encontrar um enredo, será fuzitado.”
Pois bem, dentro do mesmo espírito eu digo que quem tentar identificar conotações políticas, religiosas ou esportivas nesta minha conversa, será processado, banido e fuzilado.
Preferências políticas, religiosas e esportivas, são inerentes a cada um e, graças a Deus, são tão diversificadas como as impressões digitais. Que eu saiba, a única exceção a esta regra é que todos somos concordes que a equipe de arbitragem, no futebol, é constituída por um bando de larápios, vindos de progenitoras de má fama, cujo único objetivo é garfar o nosso time do peito.
A vênia que eu peço para esta distinta assembleia é a de ter a prerrogativa de usar o que aprendi na gramática do século passado onde consta que podemos utilizar, por padrão, formas do masculino para designar conjuntos que integram entidades masculinas e femininas (e as muitas outras que têm surgido).
Bem, vamos em frente...
Agora, vamos refletir um pouco. O que é engenharia e o que é ser engenheiro?
Como diz o hino informal da Escola de Minas, do saudoso Fíávio Stockler, a
“oferece à humanidade, o radar, o motor a explosão, a energia da eletricidade, o minério, o petróleo, o carvão ...”
e muito mais, além destas citações de cadência poética.
E, evidentemente, a operacionalizaçâo de tudo isto vem do conhecimento e competência dos engenheiros.
Mas será que ser engenheiro se resume a isto? É claro que isto é importante, mas, na minha concepção, não é tudo. Eu diria que o tripé que caracteriza o engenheiro é constituído dos seus conhecimentos nos segmentos técnico e administrativo e, de igual relevância, na sua atitude.
O que seria esta “atitude”?
Quem foi à Missa de Ação de Graças , ontem à noite, deve se lembrar do evangelho, onde Jesus falou aos seus discípulos: “Vós sois o sal da terra, vós sois a luz do mundo”.
Lá é feita a comparação com um candeeiro, cujo objetivo é irradiar luz no ambiente. Para isto, ele deve ser colocado em um lugar de destaque, de modo que a sua luz tenha o máximo aproveitamento. Ainda diz que se ele for colocado debaixo de uma vasilha, o seu benefício se limitaria a ele mesmo e nada mais.
Voltando aos candeeiros do CREA, se eles usam do conhecimento adquirido em proveito próprio, nada mais legítimo! É o exemplo típico de colher os frutos da árvore que plantaram e cuidaram. Mas, já disse, isto não é tudo. O que falta, então?
Vamos tentar caracterizar o que mais, comparando com um jogo de xadrez.
Na disposição inicial, no tabuleiro, a primeira íinha é ocupada pelo rei e a rainha, ladeados, à direita e à esquerda, por dois grupos constituídos de um bispo, um cavalo e uma torre, cada um. Ao longo da segunda linha estão os oito peões, que a fecham totalmente. Neste conjunto, a rainha é a mais poderosa e os peões os mais limitados, mas são os que têm a possibilidade de serem promovidos a qualquer peça, à escolha, inclusive a rainha.
Como se pode ver, isto é o que ocorre (ou deveria ocorrer) na vida real, seja numa empresa, seja numa comunidade, cidade, país, mundo.
Sendo uma figura de destaque em quaiquer daqueles segmentos, a atitude do engenheiro é relevante em contribuir para a condução solidária e harmoniosa das atividades, em todos os níveis, dentro da sua área de influência.
É como diz a continuação daquele hino informal:
”do operário és o pão, és o meio, da conquista de seus ideais, és a força vital, és o esteio, das demais profissões liberais”
Ainda na comparação da engenharia com a rainha do xadrez, por mais poderosa que ela seja, se sair perambulando sozinha pelo tabufeiro, sem dar ou receber apoio, em pouco tempo será encurralada, capturada e removida do jogo, sem dar maior contribuição para os objetivos da sua facção. Algo como o mais talentoso jogador do time ser expulso aos 5 minutos.
Tal como a técnica, a atitude deve ter seu aprendizado inicial e, neste ponto, os engenheiros de Ouro Preto têm o privilégio do convívio nas repúblicas e na caríssima comunidade ouropretana.
“o passado engrandece o presente”- é o que aqueles bambas nos legaram
“o presente agiganta o porvir"- é o legado que deixaremos
E, por falar nesta última turma, isto me lembra de um compromisso de tomar uma cerveja gelada com a parcela do corpo discente que habita a Arca de Noé, o que me obriga a encerrar por aqui.
Grato pela paciência

O mestre Guimarães Rosa escreveu que "As pessoas não morrem, ficam encantadas... a gente morre é para provar que viveu". E o Engenheiro Kleber Faria Pinto (Turma de 1958 da Escola de Minas) ficou encantado, neste dia 8 de dezembro. E provou que viveu, deixando um importante legado à Fundação Gorceix e à Escola de Minas.
O presidente executivo da Fundação Gorceix, Prof. Cristovam Paes de Oliveira, que tinha em Kleber, antes de tudo, um amigo, lembra que “a Escola de Minas e a Fundação Gorceix perdem um colaborador dos mais importantes, que sempre defendeu e contribuiu com as nossas Instituições, em todos os momentos em que foi acionado”.
“Registro nosso reconhecimento por sua contribuição e dedicação como integrante de nosso Conselho por muitos anos, e por estar sempre presente, fosse nas comemorações ou nos momentos críticos de nossa trajetória institucional”, complementa.
Natural de Propriá – SE, o jovem Kleber veio estudar em Ouro Preto e logo adaptou-se à cidade com seu espírito seresteiro, boêmio e hábil contador de histórias, tendo inclusive fundado a República Formigueiro. Das Minas Gerais foi para o Planalto Central logo após graduar-se em Engenharia de Minas, Metalurgia e Civil.
Na futura capital do país, começando a ser construída, trabalhou na Empresa Brasileira de Engenharia – EBE, em projetos de instalação de rede elétrica subterrânea. Em 1961, exerceu o cargo de chefe de gabinete do ministro das Minas e Energia, João Agripino Filho. Foi professor da Comissão de Administração do Sistema Educacional de Brasília – Caseb e professor de Matemática da Faculdade de Arquitetura da Universidade de Brasília – UnB. Trabalhou com Israel Pinheiro, Darcy Ribeiro, Oscar Niemeyer, Lucio Costa, Félix Vieira de Almeida, Joffre Mozart Parada e Moacyr Gomes e Souza. Foi cônsul honorário do Senegal e presidente da Associação dos Frequentadores do Aeroporto Internacional de Brasília.
A Fundação Gorceix se solidariza com a família de Kleber Faria Pinto, registrando seu reconhecimento pela imensa contribuição e dedicação à causa da Gorceix.
A ele, as homenagens de toda equipe da Fundação Gorceix.

No dia 31 de outubro último, o presidente executivo da Fundação Gorceix, Professor Cristovam Paes de Oliveira, esteve na AcelorMittal João Monlevade, onde, além da área histórica da empresa, visitou o Laboratórios de Metalurgia e Física e conheceu as inovações tecnológicas desenvolvidas no local.
A visita foi guiada pelo Engenheiro Metalurgista, Joaquim Gonçalves Costa Neto, representante da empresa e ex-aluno da turma de 1988-1 da Escola de Minas/UFOP. (Na foto à esquerda)

Leia abaixo o discurso na íntegra:
Antes de prosseguir, um pouco de história.
Dezembro de 1960 - provas finais (o nome era outro, mas não importa).
Era mais ou menos assim: dois discos paralelos são separados por um líquido de viscosidade conhecida. Imprimindo a um dos discos um movimento, calcular qual o movimento induzido ao segundo.
Este problema era um dos integrantes da coletânea de “finas” de Física I (para os não iniciados, finas eram ...) que eu negłigenciei e, para minha tristeza, caiu na prova. Com isto adquiri a prerrogativa de me submeter a uma segunda prova, em fevereiro de 1961 (a chamada segunda época).
Para este segundo embate eu julgava ter uma facilidade - partindo do princípio que o raio não cai duas vezes no mesmo lugar, os nossos heroicos discos poderiam ser descartados da preparaçăo para aquela “repescagem”. Com isto haveria mais tempo năo só para a preparação para o exame, mas também liberaria tempo para outros deveres igualmente importantes.
A título de ilustração, dentre estas útimas poderíamos destacar a multimilenar atividade da busca da sobrevivência. lnvestidos da função de “caçadores coletores”, partíamos , em incursões noturnas, à caça das essenciais proteínas, nos profícuos habitats de aves domésticas, nos quintais da cidade.
Voltando às atividades acadêmicas, tive o desprazer de constatar que um raìo pode cair duas vezes no mesmo lugar, assim como um mesmo problema de física pode cair em duas provas consecutivas.
Como consequência disto, fui abandonado peła minha turma, que seguiu em frente e agora comemora seu jubiteu de diamante. Parabéns para vocês! Como compensação, (ou consolo?), serei diamante do sesquicentenário, enquanto vocês são apenas 149.
Antes de prosseguir, gostaria de dar um aviso e pedir uma vênia.
O primeiro é semelhante ao que Mark Twain apôs no início do livro “Aventuras de Huckleberry Finn”, que diz: “quem tentar encontrar um moțivo nesta narrativa, será processado; quem tentar encontrar a moral da história, será banido; quem tentar encontrar um enredo, será fuzitado.”
Pois bem, dentro do mesmo espírito eu digo que quem tentar identificar conotações políticas, religiosas ou esportivas nesta minha conversa, será processado, banido e fuzilado.
Preferências políticas, religiosas e esportivas, são inerentes a cada um e, graças a Deus, são tão diversificadas como as impressões digitais. Que eu saiba, a única exceção a esta regra é que todos somos concordes que a equipe de arbitragem, no futebol, é constituída por um bando de larápios, vindos de progenitoras de má fama, cujo único objetivo é garfar o nosso time do peito.
A vênia que eu peço para esta distinta assembleia é a de ter a prerrogativa de usar o que aprendi na gramática do século passado onde consta que podemos utilizar, por padrão, formas do masculino para designar conjuntos que integram entidades masculinas e femininas (e as muitas outras que têm surgido).
Bem, vamos em frente...
Agora, vamos refletir um pouco. O que é engenharia e o que é ser engenheiro?
Como diz o hino informal da Escola de Minas, do saudoso Fíávio Stockler, a
“oferece à humanidade, o radar, o motor a explosão, a energia da eletricidade, o minério, o petróleo, o carvão ...”
e muito mais, além destas citações de cadência poética.
E, evidentemente, a operacionalizaçâo de tudo isto vem do conhecimento e competência dos engenheiros.
Mas será que ser engenheiro se resume a isto? É claro que isto é importante, mas, na minha concepção, não é tudo. Eu diria que o tripé que caracteriza o engenheiro é constituído dos seus conhecimentos nos segmentos técnico e administrativo e, de igual relevância, na sua atitude.
O que seria esta “atitude”?
Quem foi à Missa de Ação de Graças , ontem à noite, deve se lembrar do evangelho, onde Jesus falou aos seus discípulos: “Vós sois o sal da terra, vós sois a luz do mundo”.
Lá é feita a comparação com um candeeiro, cujo objetivo é irradiar luz no ambiente. Para isto, ele deve ser colocado em um lugar de destaque, de modo que a sua luz tenha o máximo aproveitamento. Ainda diz que se ele for colocado debaixo de uma vasilha, o seu benefício se limitaria a ele mesmo e nada mais.
Voltando aos candeeiros do CREA, se eles usam do conhecimento adquirido em proveito próprio, nada mais legítimo! É o exemplo típico de colher os frutos da árvore que plantaram e cuidaram. Mas, já disse, isto não é tudo. O que falta, então?
Vamos tentar caracterizar o que mais, comparando com um jogo de xadrez.
Na disposição inicial, no tabuleiro, a primeira íinha é ocupada pelo rei e a rainha, ladeados, à direita e à esquerda, por dois grupos constituídos de um bispo, um cavalo e uma torre, cada um. Ao longo da segunda linha estão os oito peões, que a fecham totalmente. Neste conjunto, a rainha é a mais poderosa e os peões os mais limitados, mas são os que têm a possibilidade de serem promovidos a qualquer peça, à escolha, inclusive a rainha.
Como se pode ver, isto é o que ocorre (ou deveria ocorrer) na vida real, seja numa empresa, seja numa comunidade, cidade, país, mundo.
Sendo uma figura de destaque em quaiquer daqueles segmentos, a atitude do engenheiro é relevante em contribuir para a condução solidária e harmoniosa das atividades, em todos os níveis, dentro da sua área de influência.
É como diz a continuação daquele hino informal:
”do operário és o pão, és o meio, da conquista de seus ideais, és a força vital, és o esteio, das demais profissões liberais”
Ainda na comparação da engenharia com a rainha do xadrez, por mais poderosa que ela seja, se sair perambulando sozinha pelo tabufeiro, sem dar ou receber apoio, em pouco tempo será encurralada, capturada e removida do jogo, sem dar maior contribuição para os objetivos da sua facção. Algo como o mais talentoso jogador do time ser expulso aos 5 minutos.
Tal como a técnica, a atitude deve ter seu aprendizado inicial e, neste ponto, os engenheiros de Ouro Preto têm o privilégio do convívio nas repúblicas e na caríssima comunidade ouropretana.
“o passado engrandece o presente”- é o que aqueles bambas nos legaram
“o presente agiganta o porvir"- é o legado que deixaremos
E, por falar nesta última turma, isto me lembra de um compromisso de tomar uma cerveja gelada com a parcela do corpo discente que habita a Arca de Noé, o que me obriga a encerrar por aqui.
Grato pela paciência